domingo, 8 de fevereiro de 2009

É bom ser brasileiro!

É surpreendente e assustador observar que somente agora, no ano de 2009, os Estados Unidos, país reconhecidamente “locomotiva” do nosso atual modo de vida sócio-econômico, esteja atento às questões de igualdade feminina no que se refere à remuneração.

Nunca morei naquele país, nem mesmo estive lá de visita. Porém, assisto com frequência filmes e seriados produzidos lá (o que é comum na televisão brasileira, seja em canal aberto ou pago). Esses filmes, independentemente de serem classificados como drama, comédia ou aventura, muito seguidamente retratam a realidade da mulher americana de classe média e alta de forma até certo ponto “estranha” para nós. De maneira geral, nota-se que quando casam deixam de trabalhar. Caso contrário, isso ocorre quando engravidam ou têm filhos. Por outro lado, quando continuam trabalhando, quase sempre são professoras, em especial de kinder garden, ou seja, de jardim de infância.

Nesse programas, quando vemos mulheres que trabalham em ambiente executivo, que são advogadas, médicas ou têm outra atividade diferente de professoras de crianças pequenas, costumam ser apresentadas como mulheres que não têm uma boa vida pessoal e social, quase sempre são solteiras ou divorciadas, e o mais próximo que chegam de uma vida afetiva regular são namoros muito longos ou relações relâmpago. Sinceramente, sempre achei que isso fosse (ou queria acreditar que fosse) uma anomalia, ou uma espécie de “liberdade artística” cinematográfica. Mas, com a iniciativa do presidente Barack Obama de regulamentar a equiparação salarial entre homens e mulheres, eliminando as diferenciações que grassam pelas empresas americanas, cheguei à conclusão de que não se trata de um delírio do cinema, mas de uma representação da realidade.

Fazendo uma pesquisa no Google, descobri que a trabalhadora americana, ao sair da faculdade, entra no mercado ganhando em média 20% a menos do que os homens na mesma situação. Dez anos mais tarde, a diferença aumenta para 31%, a favor dos homens, claro. Embora sejam dados de 2007, a própria preocupação de Obama com essa questão denota que não mudou muito em pouco mais de um ano. Descobri, também, que a licença-maternidade de 12 semanas não é remunerada e que o trabalhador americano em geral também não tem direito a férias remuneradas (CONSTANTINO, Rodrigo). Isso sem falar no expediente de trabalho que costuma extrapolar as 10 horas diárias ou 50 horas semanais.

Sinceramente, fiquei grata por ser brasileira. Fiquei grata por termos a tão mal-falada Consolidação das Leis do Trabalho, que ainda que já esteja antiquada em relação a muitos aspectos, ainda pode ser vista como um verdadeiro paraíso por um norte-americano.

Não consigo imaginar pessoas e famílias felizes, equilibradas, que criem filhos emocionalmente saudáveis na situação do trabalhador americano e da mulher americana. O sentimento de frustração, de improdutividade deve ser assolador. E, em minha opinião, isso justifica em boa parte a compulsão por produtos de consumo, por alimentos congelados ou fast food, e a falta de consciência em relação ao mundo que os rodeia. É uma maneira de compensar a falta de tempo para si, a falta de valorização enquanto ser humano, de reconhecimento das competências profissionais, que são paralelas ou transversais às competências e obrigações de mãe ou dona-de-casa. Isso, para mim, tem nome: ínfima qualidade de vida. O que, aliás, pode nos levar a outra discussão: afinal, o que é qualidade de vida?

Mas esta vamos deixar para outro dia!