segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Coleção Panos de Prato Zaffari – 1990

1990
Chegou então a nova década! Muita esperança de melhores tempos, de economia mais equilibrada no país, de chances de crescimento e melhores condições de vida.

Meu marido e eu estávamos nos equilibrando financeiramente, ele começou a trabalhar como funcionário, mesmo (até então era estagiário), de uma empresa do pólo petroquímico. Tudo começou a se acomodar melhor.

Fernando Collor de Mello assume a presidência do Brasil no dia 15 de março, e apesar de não ser a 8ª maravilha do mundo, nem a escolha de grande parte dos brasileiros, quando um novo presidente assume, sempre se renovam as esperanças: “Quem sabe as coisas mudam?”

Mudaram. Pelas mãos da ministra Zélia Cardoso de Mello, devidamente mancomunada com o presidente recém empossado, no dia seguinte, 16 de março, caiu como um tijolo sobre as nossas cabeças o Plano Collor I. O Brasil inteiro acordou com suas poupanças confiscadas e o máximo de dinheiro que qualquer um tinha “sobrando” eram NCZ$50 mil (cinquenta mil cruzados novos), ou o equivalente, hoje, a mais ou menos R$50 (cinquenta reais).

A vantagem? Para nós, a nossa pequena família, não mudou muita coisa. Afinal, nem tínhamos condições de ter dinheiro em poupança, ainda. Mas a coisa ficou preta para muita gente! Houve uma quebradeira geral, empresas e pessoas quebrando, crises nervosas e até suicídios pipocando Brasil a fora. O escambo, permuta de produtos por serviços e vice-versa, foi a principal moeda de troca por algum tempo. Nós continuamos a fazer nosso ranchinho no Zaffari da Fernando Machado, com mais parcimônia ainda que nos anos anteriores, mas sem maiores tropeços.

Mas, não deixou de ter um lago cômico na tragédia. Afinal, Collor havia sido eleito justamente por aqueles que temiam que o candidato metalúrgico de esquerda ganhasse as eleições e viesse a implantar o comunismo no país, a confiscar propriedades urbanas e rurais, entre outras possibilidades. Pois, mesmo assim, os eleitores foram vítimas de seus medos e acabaram sendo roubados pelo candidato de direita em quem votaram.

Outra notícia-bomba chegou quase no final do ano, em outubro, desta vez com exclusividade para a nossa família: eu estava grávida novamente! Comecei a ter dores, o que, pelas duas gestações anteriores eu sabia que não era normal. O médico pediu uma ecografia (ou ultrassom, para quem não conhece o sinônimo) ainda no primeiro mês de gravidez, e constatou-se um mioma de 11cm de diâmetro que estava, com seu tamanho e peso, torcendo a trompa – por isso a dor.

O dr. Breno disse que iríamos fazer ecografias mensais para acompanhar o desenvolvimento do mioma. Se evoluísse precisaria cirurgia, mas disse que muitas vezes a carga hormonal da gestação faz os miomas diminuirem, e que essa era uma forte possibilidade.

No mês seguinte, fiz a ecografia de controle. De fato, o mioma já havia diminuído um pouco. Porém... a última notícia bombástica do ano veio junto: eu estava grávida de gêmeos! Passamos aquele final de ano de molho: eu tive duas ameaças de aborto, um na véspera do Natal e outro na véspera do Ano Novo.
Na boa? Todo mundo não via a hora de acabar esse ano fatídico!