segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O futuro do Teletrabalho nas mãos dos jovens!

O artigo a serguir foi publicado na Veja SP de 27/10/2010, é de autoria de Ivan Angelo, e mostra que se as empresas não adotam por iniciativa própria o trabalho a distância, são obrigadas, pouco a pouco, a ceder espaço ao teletrabalho para poder atrair e reter os novos talentos que chegam ao mercado.

"NOVA GERAÇÃO
O rapaz chegou para a entrevista. O executivo de vendas on-line da grande empresa levantou-se para apertar sua mão, com aquela simpatia que os executivos de grandes companhias exibem quando querem transmitir acolhimento e calor humano. Aproveitou para dar uma geral no rapaz.
Arrumado, mas nada formal, de sapato novo, jeans, camisa de manga comprida enrolada até a metade do antebraço. O detalhe que o incomodou um pouco foi um brinquinho prateado de argola mínima na orelha esquerda. “Nisso dá-se um jeito depois, se valer a pena”, pensou o executivo.
Ele sabia que não estava fácil atrair novos talentos e reter os melhores. Empresas aparelhavam-se para o crescimento projetado do país, contratavam jovens promissores, mesmo os muito jovens, como era o caso do rapaz à sua frente, 21 anos. Elas precisavam estar preparadas para os próximos dez anos de concorrência.
Havia mais de duas horas que o rapaz estava em avaliação na empresa. Passara pela entrevista inicial com o chefe do setor, resolvera os probleminhas técnicos de internet e programação visual que lhe apresentaram, com rapidez e certa superioridade irônica, lera os princípios, valores e perfil da empresa, apresentados numa pasta de folhas de papel-cuchê embutidas em plástico. Alguns itens, como “comprometimento”, foram apresentados como pré-requisitos. Afinal o encaminharam para o diretor da área de e-comerce, vendas pela internet. O executivo tinha em mãos a avaliação do candidato: excelente.
Descreveu o trabalho de que a empresa necessitava: desenvolvimento de um site interativo no qual o cliente internauta pudesse fazer simulações de medidas, cores, ajustes, acessórios, preços, formas de pagamento e programação de entrega de cerca de 200 produtos. Durante sua fala, o rapaz mexeu as pernas, levantou um pé, depois o outro, incomodado. O executivo perguntou se ele se sentia apto.
— Dá para fazer — respondeu o rapaz, movendo a perna, como se buscasse alívio.
— Posso te ajudar em alguma coisa?
— Vou te falar a verdade. Eu comprei este sapato para vir aqui e ele está me apertando. Eu só uso tênis.
O executivo sorriu e pensou: “Esses meninos...”.
— Quem falou para eu vir fazer esta entrevista, e vir de sapato, foi minha namorada. Porque eu não vinha. Ela falou para eu comprar sapato, e o sapato está me apertando aqui, me atrapalhando.
Nos últimos anos, o executivo vinha percebendo que os desafios pessoais para a novíssima geração eram diferentes, e que havia limites para o que eles estavam dispostos a ceder antes de se comprometer com um trabalho formal.
— Não tem problema. Pode vir de tênis. O emprego é seu.
— Não, obrigado. Eu não quero emprego.
O executivo parou estupefato. O menino continuou:
— Todo mundo foi muito gentil, mas não vai dar. Esta camisa é do meu pai, eu tenho tatuagem, trabalho ouvindo música.
— Então por que se candidatou, se não queria trabalhar?
— Desculpe, eu não falei que não queria trabalhar.
Novo espanto do executivo. Sentia nas falas dele e do rapaz uma dissintonia curiosa. Como ficou calado, esperando, o rapaz prosseguiu:
— É muito arrumado aqui. E eu não quero ficar ouvindo falar de identidade corporativa, marco regulatório, desenvolvimento organizacional, demanda de mercado, sinergia, estratégia, parâmetros, metas, foco, valores... Desculpe, eu não sabia que era assim. Achava que era só fazer o trabalho direito e ver funcionar legal.
O executivo ficou olhando a figura, contando até dez, olhos fixados naquele brinco. O garoto queria ter a liberdade dele, a camiseta colorida dele, o tênis furado dele, ouvir a música dele nos fones de ouvido, talvez trabalhar de madrugada e dormir de manhã. Não queria aquele mundo em que ele mesmo estava metido havia vinte anos. Conferiu de novo as qualificações do rapaz, aquele “excelente”. Ousou:
— Trabalhar em casa você aceita?
— Aceito.
Queria o trabalho, não o emprego. Acertaram os detalhes. Assim caminha a humanidade."

3 comentários:

  1. O texto ilustra perfeitamente a busca por "trabalho" atual. Mas isso não é exclusividade de é contratado. Quem quer abrir o seu próprio negócio muitas vezes procura desenvolve-lo de forma mais ágil e até econômica, trabalhando assim em casa. Nesses casos existem os Escritórios Virtuais ou Centro de Negócios que auxiliam para deixar a empresa com uma cara mais "profissional". Eu possuo um Escritório Virtual em Porto Alegre e vejo a satisfação dos meus clientes em relação a esse tipo de facilidade.
    Parabéns pelo artigo!
    Lúcia Dutra
    www.easyofficepoa.com

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  2. Olá, Lúcia!

    Sou 100% a favor - como você talvez já tenha percebido, pelo meu envolvimento há mais de 10 anos com o tema teletrabalho - do trabalho em casa ou em pólos ou centro de trabalho a distância.

    Acredito que esse é o caminho mais curto, prático e econômico para (1) a melhoria da qualidade de vida, (2) a redução dos congestionamentos e melhoria do trânsito nas grandes cidades, (3) redução da poluição do ar, (4) aumento do nível de segurança dos indivíduos [furtos, roubos, assaltos, sequestros, etc], (5) a retomada de uma melhor convivência com os filhos e influência na educação deles, entre pelo menos mais duas ou três dezenas de benefícios.

    O que me surpreende muito é a falta de modernização, iniciativa e "peito" das organizações para adotar o trabalho a distância, mesmo diante das vantagens financeiras óbvias. É claro que há obstáculos a serem vencidos, mas isso sempre houve, desde quando o ser humano enfrentou a transição do nomadismo para o sedentarismo.

    Na verdade, o maior obstáculo ainda é o cultural/comportamental. O medo dos "chefes" de não ver os seus subordinados trabalhando, de terem funcionários relapsos indo ao cinema em vez de trabalhar em casa; o temor dos funcionários de serem preteridos em promoções, pouco reconhecidos e valorizados nas avaliações por não estarem sendo "vistos"; a falta de confiança das áreas jurídicas para analisar a CLT e verificar que não há impedimentos ao trabalho realizado fora das dependências da empresa; o temor de não conseguir estabelecer círculos sociais fortes por terem reduzidas as oportunidades "obrigatórias" de convivência entre colegas; e por aí vai.

    Aqui em São Paulo há iniciativas e experiências interessantíssimas de teletrabalho, seja na modalidade home-office, co-working, virtual office e/ou mobile working. E eu fico MUITO satisfeita por saber que na minha terra isso também acontece!

    Faço votos que o seu empreendimento e os seus clientes cresçam muito, tenham muito sucesso e mostrem para os menos arrojados que ser destemido e compreender as mudanças oportunizadas pelas novas tecnologias é uma das competências mais importantes do nosso tempo.

    Um grande abraço.

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  3. Ana adorei sua crônica, eu tenho vários sites e como não sei programar quem faz meus sites são com caras com menos trinta anos, são pessoa bem despojados tanto no falar como no comportamento, gosto disso.

    Pessoas da minha idade (tenho 51 anos) se sentem desconfortáveis em fazer negócios com eles, tenho dois webdesigner que fazem os meus sites nunca conheci eles pessoalmente só através das redes sociais, nem quero que ele venha fazer uma reunião comigo acho extremamente desnecessária.

    Raramente falo com algum cliente pessoalmente, mas se vou ao escritório deles vou de camiseta, jeans e tennis por isto não abro mão por uma simples razão não uso camisa e outros apetrechos de comportamento social, porque o que faz um homem, uma mulher é seu caráter, ser uma pessoas honesta consigo mesmo e diante dos outros é o que vale .

    Serei sempre um jovem, tenho uma vantagem diante da minha geração nunca tive filho para me dizer como eu devo me comportar, porque os filhos sempre tentam moldar e desfazer seu estilo de vida quando era jovem, a beleza do ser humano é ter corpo envelhecido pelo tempo, mas uma mente com o frescor da juventude.

    Sou 100% home-office, virtual office, gosto de trabalhar ouvindo muito Rock,in roll, Blues o dia inteiro num escritorio não rola esta moleza.

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