quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Alguns esclarecimentos sobre Relações Públicas

Pessoal, recebi um questionamento muito pertinente sobre relações públicas de um leitor, o Thiago. Como a pergunta dele certamente é a mesma de muitas outras pessoas, da área de Relações Públicas ou não, profissionais, estudantes e indivíduos em geral, achei que seria mais interessante publicar a resposta aqui no Pró-RP, para que fique disponível a todos.

A resposta é longa, mas acredito que esclarece alguns pontos.

Segue a pergunta do Thiago, e, logo depois, a minha resposta.

Pergunta
Oi professora.

Gosto muito do seu blog. Mas tenho uma pequena pergunta.

Por quê ninguém fala NADA a respeito do RP de qualquer outra coisa que não seja na Indústria ou em empresas grandes?? E o RP de:

1 - Celebridades
2 - Atletas
3 - Comércio (lojas, restaurantes, danceterias)
4 - RP de produtos específicos em uma empresa: Por exemplo: RP para lançamento de um Game para PC.
5 - RP da industria da Moda.
6 - RP de Político
7 - RP de Clubes Esportivos
6 - RP de Bandas musicais
8 - RP de Editora de Revistas, ou RP de uma única publicação.
9 - RP de Eventos (porque beleza, RP não é pra fazer festinha, ma com certeza deve ser o melhor profissional do mundo em fazer festas (eventos).

Sinceramente não entendo.

Fiz uma pesquisa grande estes dias sobre o RP e o mercado de Games. Sabe o que encontrei em português? Nada. Pesquisei tudo em Inglês. Fiz um trabalho de 70 slides a respeito disso, apenas para um produto específico: Game.
Resposta

Oi, Thiago!

Obrigada por acompanhar as postagens do Pró-RP, e principalmente por ter a iniciativa e coragem de fazer os teus comentários. A tua pergunta vem muito a propósito. Além de não haver muito conhecimento sobre as atividades de relações públicas em geral, também existe uma grande confusão em relação aos níveis de sua atuação bem como às áreas e nichos em que atua ou pode atuar.

Com certeza o relações públicas e a atividade de Relações Públicas são importantes em qualquer organização do primeiro, segundo e terceiro setor. O que acontece, é que as grandes empresas foram as primeiras a se darem conta da necessidade de um trabalho de comunicação que não seja unicamente de publicidade e propaganda, quando observaram que os resultados são efêmeros, restritos a pouco mais que o tempo de veiculação. Ao implantarem o planejamento estratégico nas empresas, notaram que comunicação também é estratégica e precisa ser trabalhada como tal.

Dessa forma, as atividades de Relações Públicas que são desenvolvidas com fins exclusivos, como para lançamento de produtos e serviços de uma organização, como falaste, são etapas táticas e operacionais que fazem parte de um plano estratégico anterior. Numa organização que tenha a estrutura de comunicação bem elaborada, há, pelo menos três níveis de atividades e respectivos profissionais de comunicação. Numa rápida explicação, temos:

Nível ESTRATÉGICO – É relativo à gestão da comunicação da empresa como um todo, elabora os planos de comunicação de médio e longo prazo (períodos de gestão comumente em torno de 5 a 10 anos) delineados sobre objetivos gerais e alinhados ao plano estratégico geral da empresa. Os profissionais deste nível geralmente têm mais de 10 anos de graduação, pós-graduação, e vários anos de mercado e são conhecidos como diretores ou gerentes. É onde são determinadas as políticas e diretrizes de comunicação além de ser responsável pelo acompanhamento do cumprimento cronograma, verificação de resultados e relatório gerencial. É onde são estabelecidos os recursos financeiros que serão disponibilizados para a comunicação corporativa, analisados e consolidados os relatórios cujos resultados serão divulgados para toda a empresa e para os demais públicos de interesse, avaliada a relação custo-benefício dos investimentos realizados por período, e que avaliam a necessidade ou não de revisão de estratégias, de limite de verbas, do plano de comunicação, realinhamentos, entre outras atividades de alto nível gerencial.

Nível TÁTICO – Trata do desenvolvimento dos programas de curto e médio prazo (geralmente de 1 a 5 anos), que são desdobramentos do plano geral de comunicação, determina objetivos específicos alinhados aos gerais e direcionados a necessidades mais pontuais da organização, bem como as abordagens que serão utilizadas para atingí-los. Os profissionais têm de 2 a 5 anos de formados, especialização ou cursos de curta duração no currículo, e menos tempo de mercado, geralmente enquadrados em subníveis como júnior, pleno e sênior, e orientam e supervisionam a execução. Aqui são determinados quais os instrumentos que serão utilizados de acordo com as características e abrangência dos públicos-alvo e públicos indiretos, delimitam as verbas para cada segmento, determinam programas específicos para datas marcantes, novos produtos e serviços a serem lançados pela empresa (aqui entra a questão do lançamento de games que comentaste), reúnem e sintetizam as informações e elaboram relatórios.

Nível OPERACIONAL – É onde são elaborados os projetos de curto prazo (que podem ser de semanas até um ano) que desenvolvem as ações que chegarão até os públicos-alvo. São determinados e detalhados os instrumentos e todos os passos a serem executados para a operacionalização das atividades. Neste nível, trabalham estudantes de graduação em comunicação ou aqueles com até 2 anos de formados (de estagiários a auxiliares e trainées), e estão sob constante supervisão e orientação dos superiores do nível tático. Aqui é que são vistos os profissionais de relações públicas que desenvolvem eventos estratégicos, como na tua pergunta, ou os que elaboram conteúdo para jornais empresariais, murais, sites, blogs, imprensa, pesquisas de opinião, pesquisas de satisfação, tabulações, levantamentos, orçamentos, contatos, redigem releases, fazem registros e relatórios detalhados, etc.

Isso é o que acontece nas grandes organizações, que têm estrutura física e financeira para tanto. Outras empresas mantêm apenas o nível estratégico em sua estrutura e terceirizam os níveis tático e operacional; ou, ainda, terceirizam apenas o nível operacional. Esse é o nicho em que as agências e consultorias de comunicação geralmente atuam.

Por outro lado, sempre é bom lembrar que instituições não são necessariamente aquelas que são compostas por vários funcionários, com sede em edifícios comerciais, que industrializam e/ou comercializam produtos de consumo de primeira necessidade ou serviços essenciais. A nossa sociedade é complexa e dela também fazem parte as atividades de lazer e entretenimento, esportes, turismo, moda, cultura, etc. Sendo assim, atletas, políticos, atores, músicos, escritores, artistas, celebridades em geral, também são instituições, geralmente com CNPJ, e muitas vezes com representatividade internacional. E, certamente, precisam gerenciar sua imagem e reputação tanto ou talvez até mais que muitas organizações, uma vez que, por terem uma estrutura menor, podem ser prejudicados muito mais rapidamente.

Entretanto, talvez até em função dessa estrutura menor, o mais comum é que essas instituições contem com apenas um ou dois profissionais responsáveis por quase todas as áreas do negócio. São os que costumam chamar de “agentes” ou “empresários”, que, embora muitas vezes sejam administradores, também podem ser advogados, economistas, contadores, jornalistas, relações públicas, além de não ser raro não terem uma graduação específica, mas serem pessoas com visão e tino para negócios. É comum essas pessoas serem as responsáveis pela administração da carreira da celebridade e contarem com assessorias específicas para algumas áreas, como por exemplo, assessoria de imprensa, jurídica, contábil, publicidade, etc. Na verdade, faltam pesquisas e dados estatísticos capazes de nos dar as informações corretas para podermos conhecer e analisar informações sobre a atuação de Relações Públicas nesse segmento.

Um último lembrete: a indústria da moda vive e sobrevive de imagem, aparência, comportamento, opinião e publicidade, além de contar permanentemente com celebridades tanto como criadores quanto usuários e divulgadores de moda. Certamente o trabalho de relações públicas é fundamental nessa área, e as grandes grifes, que também contam com uma estrutura organizacional mais delineada, têm absoluta consciência da importância da comunicação no seu negócio. Acredito que haja muitos profissionais de relações públicas atuando nessa área, mas, mais uma vez, faltam-nos dados que possam dar base para afirmações mais seguras.

Não seria ótimo se fosse desenvolvida uma grande pesquisa nacional para conhecermos melhor a realidade da comunicação e das Relações Públicas no país?

Espero ter ajudado um pouco a esclarecer as tuas dúvidas, ao mesmo tempo em que deixo a provocação para que nós e outros profissionais e interessados busquemos formas de ampliar o leque de conhecimento sobre a atuação das Relações Públicas no Brasil para que possamos, também, difundir nossa profissão e aumentar nosso mercado.

Um grande abraço e obrigada pela oportunidade de me fazer elaborar o pensamento sobre o assunto.

Um comentário:

  1. Olá Ana,

    pertinente demais a pergunta do Thiago e esclarecedores seus posicionamentos... com sua licença fiz um post, linkando a leitura para cá.
    Abraços

    Marcia

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