quinta-feira, 24 de julho de 2008

Odisséia de uma transferência de veículo – Parte III

(Depois de um pequeno recesso por razões familiares (além de um pouco de descanso, afinal também sou filha de Deus!), estou de volta pra continuar o relato. Desculpem não ter avisado. Algumas coisas aconteceram de última hora. Espero que todos tenham aproveitado ou estejam aproveitando suas férias e dias de menor trânsito nas ruas para, pelo menos, dormir um pouco mais, assistir televisão, ir ao cinema, colocar a leitura em dia, namorar, ou simplesmente ficar de pés para cima.)

Dia seguinte, levantei cheia de pique, fiz outras coisas que precisava ainda de manhã, nem almocei e fui para o Ciretran. Como eu já havia feito minha nova carteira de habilitação no final do ano passado, sabia onde era. Rodei um pouco para conseguir estacionar do lado oposto da avenida, e lá me fui, com todos os documentos dentro de um envelope plástico. Era meio dia e cinqüenta e cinco minutos. Tinha uma fila na porta, que estava fechada. Daí lembrei: o Ciretran funciona das 8h às 12h e das 13h às 17h. Fecham para o almoço.

Coisa, aliás, que acho difícil de entender não só lá, mas em todos os serviços públicos e mesmo no comércio. Como podem fechar para almoço, se este é o horário que a maioria das pessoas que trabalha em expediente integral pode ir tratar de seus assuntos pessoais? Não seria muito mais lógico se houvesse um revezamento dos funcionários para irem almoçar, de maneira a continuarem atendendo nesse horário? Enfim... Pelo menos no Brasil não existe o horário da “siesta” como em grande parte dos países latinos.

Esperei abrir a porta e, quando fui atendida pelo moço que lá estava em pé fazendo a triagem, ele perguntou se eu já tinha feito a vistoria do carro.

- Não.
Pensei que primeiro tinha que trazer os documentos aqui. Ninguém me avisou que antes era para fazer a vistoria.

- Então a senhora passe naquela casa azul e branca com o carro para fazer a vistoria. Depois que estiver tudo OK, volte aqui.

Ai, ai. Lá fui buscar o carro, fazer a volta, entrar no outro portão, lá adiante, na fila para a vistoria. E tinha váááários carros na fila. Fiquei lá, lendo e corrigindo artigos dos alunos da pós, de vez em quando andando um pouco com o carro para a frente.

Chego na vistoria. Vem um funcionário e pede os documentos. Olha e devolve. Vem outro e começa:

- Farol baixo. Farol alto. Seta para a esquerda. Seta para a direita. Pise no freio. Engate a ré.

E eu fazendo tudo direitinho. Daí a pouco o moço, atrás do carro, diz:

- Faz favor.

Eu olhei para o lado, para a frente, para trás. Vi o moço olhando para a prancheta e anotando. Não, ele não falou comigo.

- Faz favor.

Olhei de novo em volta, para os outros funcionários, para os outros carros. Ninguém falou comigo ou fez qualquer gesto. Que estranho, será que estou ouvindo coisas?

- Faz favor!

Desta vez identifiquei que era mesmo o moço que estava atrás do meu carro que falava em tom de voz mais alto e agora olhando para mim. Botei a cabeça para fora da janela, olhei para ele e perguntei:

- Sim?

- Faz favor.

- Mas faz favor o quê? – quase gritei, meio indignada. Afinal, ele só repetia o “faz favor” e não dizia o que era para eu fazer. Ligar o carro? Andar?

- Faz favor de vir aqui ver uma coisa.

Putz... Podia ter dito antes...

Então ele aponta a placa traseira do carro.

- As lâmpadas da placa estão queimadas. A senhora tem que regularizar isso e trazer o carro outra vez para a vistoria.

Sim, claro. Não poderia ser tão simples. As lâmpadas da placa traseira estão queimadas. Até onde sei, não são itens de segurança obrigatórios por lei (será que isso mudou?). Tudo bem, deve ter sido quando bateram na traseira do meu carro, eu nem tinha notado. Não adianta argumentar nem discutir. Vou atrás de quem arrume isso.

Saí de lá e fui direto numa mecânica que fica na Av. Vergueiro, aqui em São Bernardo (depois eu coloco o nome aqui), onde há pouco tempo atrás eu havia trocado todas as lâmpadas do carro, porque andavam queimando em seqüência. Fui bem atendida lá daquela vez, é uma família de descendentes de japoneses muito simpáticos.

O senhor de mais idade que me recebeu desta vez. Expliquei o que era, e que talvez fosse meio difícil de trocar porque o porta-malas não estava abrindo desde o acidente. Apesar da idade aparentemente avançada, ele não teve problemas pra trocar as duas lampadinhas com rapidez e conseguiu fazer isso sem precisar abrir o porta-malas.

- Muito obrigada! Quanto é?

- R$5,00.

Feliz da vida com a eficiência e eficácia, bem como com o preço baixo, voltei imediatamente para a vistoria. Fila outra vez. Lembrei da Marta “Suplício”: relaxa e goza! Terminei de corrigir todos os artigos dos alunos. Cheguei novamente na vistoria. Apresentei os papéis e já avisei ao senhor que me atendeu:

- Era só para regularizar as lâmpadas da placa traseira. O resto já está tudo OK.

Por sorte ele só verificou isso mesmo, e me liberou. Ufa! Vistoria feita e aprovada.

- E agora? – perguntei ao funcionário.

- Agora a senhora tem que ir naquela porta lá atrás para encaminhar as novas placas da transferência.

- Ah, certo. Como eu faço para chegar ali daqui?

- Ah, não tem jeito. Aqui dentro não tem retorno. A senhora tem que sair, estacionar o carro lá fora e vir a pé.

Sim, claro. Saí e fui achar um lugar para estacionar depois de duas voltas na avenida. Fui até “aquela porta” entreguei o documento, e me disseram que em 5 dias úteis a placa estaria pronta para retirar.

- Certo. E agora?

- Agora a senhora vai levar os outros documentos no escritório do Ciretran lá atrás.

Ah, sim. Aquele onde eu tinha estado antes e precisava ter feito a vistoria. Fui lá. Entreguei os documentos, e de acordo com eles, se não houvesse nada em desabono, multas, IPVA vencido, etc, em 5 dias úteis a transferência de estado estaria concluída e eu poderia retirar a nova documentação do carro: certificado de propriedade, DUT, etc.

Beleza! Entre mortos e feridos, salvaram-se todos! Em uma semana estarei com os documentos na mão e poderei levar meu carro na loja para entregar aos “novos donos” e finalmente retirar meu zerinho. Fui para casa com a sensação de ter descarregado o mundo das costas.

(continua no próximo capítulo)

2 comentários:

  1. Puxa vida professora. Mas que saga. Mas acredito que tudo valeu a pena só para ter seu carro zerinho. Uma Manssour no mundo, contando suas peripécias.

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  2. Aguardamos pelo final, já vai fazer aniversário de um mês esse último post!

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