quinta-feira, 19 de março de 2009

Militância vegetariana e respeito à diversidade humana

Considerando-se a população total, temos atualmente cerca de 6,7 bilhões de pessoas vivendo (ou tentanto sobreviver) no planeta Terra. Em 2050 deveremos ultrapassar o estrondoso número de 9 bilhões de indivíduos. Em 2008, o número de pessoas que passam fome no mundo foi contabilizado em 963 milhões. (Dados da ONU)

Diariamente, o mundo recebe novas 200.000 bocas para alimentar. Mesmo com a otimização e reciclagem de alimentos, aumenta consideravelmente o desmatamento do planeta para plantação de vegetais e criação de gado. (Relatório PLUMA 2009)

As situações mais críticas de fome e subnutrição encontram-se em países da África e da Ásia, onde as populações são formadas essencialmente por sociedades tribais, gregárias ou não, que vivem da caça, criação de animais e de vegetais. Entretanto, o clima de muitas regiões não é amigável no que se refere a cultura de vegetais, que exigem um equilíbrio maior entre calor e umidade do que os animais, que resistem melhor às adversidades.

Na China, o país mais populoso do mundo, tudo o que tem vida é potencialmente alimento, seja do reino animal ou vegetal, incluindo-se aí desde insetos dos mais variados tipo, como formigas e escorpiões até ratos, morcegos e fetos humanos.

Sabe-se que os nutrientes de origem animal levam mais tempo sendo processadas pelo trato digestivo. Por consequencia, a sensação de saciedade também é mais longa, e, uma vez quebradas as moléculas, são bem absorvidas, processadas e bem aproveitadas, bem como as gorduras necessárias para fazer a reserva energética de longo prazo do organismo. Os carboidratos de origem vegetal são absorvidos rapidamente e a energia deles obtida tabém esgota-se rapidamente, pois são utilizadas pelo organismo em curto prazo, em geral até meio dia após a refeição. “As proteínas dos vegetais são chamadas incompletas, porque não contêm todos os aminoácidos necessários ao organismo. Por isso, as proteínas de origem animal são as mais recomendadas e estão nas carnes, ovos, leite e seus derivados.” Para que um vegetariano ortodoxo possa suprir adequadamente suas necessidades de proteínas, preisam de uma combinação “de uma grande variedade de alimentos. Os aminoácidos ausentes em alguns estão presentes em outros.” (FAAC/UNESP)

Portanto, se virmos a questão por um ângulo macro, temos que ter muito cuidado ao apoiar amplamente a não-ingestão de carnes. Os primeiros anos de vida do ser humano, por exemplo (até cerca de 3 anos de idade) são cruciais para direcionar o bom desenvolvimento mental e físico do indivíduo vida a fora, e a ingestão de alimentos de origem animal aumentam as chances de garantir tal estrutura básica. Por outro lado, é necessário termos em mente que, se nós, por sorte, não passamos nenhum tipo de necessidade básica, há quase um bilhão de pessoas no mundo que passam fome e que, se receberm alimentos de origem animal na dieta – não necessariamente com exclusividade, é claro -, poderão suprir por mais tempo a sustentabilidade do corpo subnutrido e, qurem sabe, até mesmo recuperar uma parcela da capacidade perdida de sobrevivência.

Dessa forma, uma vez que já somos adultos (acredito que todos nós já passamos dos 3 anos de idade), e que vivemos num contexto socioeconômico que nos permite ter acesso a feiras, mercados e supermercados em que há uma grande variedade e quantidade de alimentos à nossa disposição, e desde que tenhamos condições financeiras de adquiri-los, temos a bênção de poder decidir sobre o tipo de alimentação que iremos selecionar para a nutrição dos nossos corpos. Mas, de forma alguma, podemos considerar “moda” as questões que envolvem a nutrição. Podemos considerar fatores culturais, sociais, econômicos, ideológicos, espirituais, tecnológicos que influenciam na alimentação. E precisamos ter consciência que o mundo evoluído ainda está restrito a poucos. Entre eles, nós, privilegiados que temos acesso à energia elétrica, redes de esgoto, água encanada, telefonia, Internet, emprego, salário, transportes, trabalho intelectual (que, aliás, exige muito menos energia do organismo que o trabalho braçal – procure alimentar um estivador ou trabalhador da construção civil apenas com vegetais...).

Minhas filhas já estão crescidas e não tenho mais a responsabilidade maternal de alimentá-las da melhor forma possível para que sejam saudáveis, fortes e inteligentes. Já se trata de uma escolha pessoal e jamais me sentirei no direito de interferir na decisão delas ou de qualquer outro adulto saudável, dono do próprio nariz e em condições socioeconomicas de arcar com as consequencias.

Talvez, um dia, eu venha a ser suficientemente evoluída espiritualmente a ponto de decidir não mais ingerir carne, embora eu não possa afirmar que isso acontecerá ainda nesta encarnação, por fatores culturais e de paladar. Parabenizo a todos que já chegaram a esse estágio e apoio suas decisões alimentares. Mas sinto dizer que não concordo com o tipo de militância e imposição ideológica que não vê o quadro geral e não respeita individualidades, necessidades e culturas que formam a diversidade humana.

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