quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Coleção Panos de Prato Zaffari – 1988

1988

Os 13 anos que separam o pano de prato de 1975 deste de 1988 fizeram uma revolução na minha vida. Muita coisa mudou.

Aqui já estou casada, mãe de duas filhas, a mais velha com 6 anos, a mais nova com quase três. Moramos em um pequeno apartamento de um quarto na rua Demétrio Ribeiro, a pouco mais de 4 quadras de distância do Zaffari da rua Fernando Machado. Eu, funcionária do Processamento de Dados do Banrisul (Banco do Estado), fazendo a faculdade de Relações Públicas na PUC-RS em doses homeopáticas, conforme a grana consegue pagar entre 3 a 6 disciplinas por semestre.

Meu marido faz o curso de Engenharia Química, também em regime homeopático na PUC-RS, e trabalha em turnos numa empresa petroquíica no pólo de Triunfo. Nossos pais ajudam em tudo e de tempos em tempos fazemos as nossas compras no Zaffari indo a pé com as crianças. Às vezes voltamos de táxi quando fazemos um rancho maior e não conseguimos carregar tudo pelas quatro quadras.

Minha filha mais velha, do alto dos seus maduros seis anos, olha para a rampa que leva ao estacionamento em cima do supermercado, e sonha em voz alta: - Mãe, um dia quando a gente tiver um carro vermelho, eu quero subir a rampa do super!

Imaginem... Ter um carro era algo completamente fora das nossas possibilidades! Com duas filhas, morando em um apartamento de um quarto emprestado, pagando faculdade, essa era uma ambição que estava muito longe de alcançarmos. Mas como explicar isso para uma criança? Houve uma vez que ela me perguntou, de dentro do ônibus quando passávamos perto do prédio onde eu trabalhava, por que eu não podia simplesmente pegar dinheiro da minha conta no banco para comprar um brinquedo que ela tinha visto? Afinal, eu trabalhava no banco...

Mas ela sempre foi esperta, e quando expliquei que na minha conta só havia o dinheiro do trabalho que eu fazia, passou a se sentir responsável pelo orçamento da casa e durabilidade do nosso dinheiro. Então, quando via os iogurtes da Turma da Mônica ou alguma outra guloseima que lhe chamava a atenção, sempre me alcançava com a etiqueta do preço bem à vista e perguntava se era muito caro. Nós até não tínhamos condições de dar presentes caros, mas nunca deixamos de comprar e oferecer o melhor para elas em termos de alimentação, e é claro que procurávamos levar alguma guloseima diferente sempre que possível.

Nossos passeios em família eram simples: rancho no Zaffari, passeios no parque perto de casa aos sábados, nos domingos almoço com os avós e longas viagens de ônibus urbanos ou trem para irmos às feiras de filhotes, Expointer e outros programas para lá de puxados, mas que deixavam as meninas felizes, e depois bem cansadas, prontas pra dormir!

Não custa lembrar, para quem viveu a época, e ensinar para os mais jovens, que nesse ano vivíamos o auge da inflação galopante – em que o dinheiro desvalorizava em questão de horas – e o primeiros tempos da abertura política pós-ditadura militar. Nesse ano foi assinada a Nova Constituição Brasileira, que vigora até hoje, um marco histórico na história política do País.

Um comentário:

  1. ah, que texto lindo...
    Ana, 1988 é o MEU ano! Sim, nasci em 1988...com inflação ou sem, meus pais ganharam mais um gasto por looongos anos...Conheci o Zaffari esse ano, pois trabalhava perto do Shopping Bourbon em SP...e é uma delícia de mercado com certeza...para doces não tem lugar melhor =)

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